terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Senhor das Horas.


O tempo, que passa tão rápido, quase nos toca de tão apressado, só deixa recado e vai embora, num piscar. O tempo me leva para tão longe, me deixa tão distante, inerte, tão muda, alheia e imersa em tantos pensamentos. O tempo consegue me calar! Sem nenhuma cerimônia, delicadeza ou aviso o tempo consegue roubar o que de melhor existe em mim: a voz. E às vezes, ele me machuca tanto, me rouba tanto, me inunda de tanta saudade...tanto, tanta. Saudade daquele dia, da falta de alegria, do sossego , do silêncio, do barulho do mar, de sorrisos sem cor e de cores que pareciam sorrir.
Eu comecei a entender o tempo no dia em que ele, de surpresa e sem avisar, chegou, sentou, pediu um café e me chamou para conversar. Então percebi nas pessoas mudando que, nem de longe, o tempo era o mesmo. E ele, realmente, pareceu não me perdoar. Ele soube ser firme e me tirar um pouco de dor, de vigor, de sabor... O tempo levou embora, e para sempre, minha avó, minha casa de bonecas, o sofá branco da sala, a altura da minha irmã e alguns tantos que quase não fazem tanta falta. No entanto, me trouxe lembranças dolorosas, um amor, uma responsabilidade prematura e uma nova, e nem tão diferente assim, imagem no espelho.
O tempo me assusta sempre, ainda não aprendi a lidar com suas inusitadas e decisivas mudanças, ainda não sei se devo esperá-lo, ou simplesmente, ir vivendo, esquecê-lo e cair em suas graças.
Hoje, o que mais sinto que se vai, junto com o tempo, é uma leveza de juventude, a impetuosidade, a divina comédia que é ser jovem, cheia de anseios e inseguranças. Acho que envelheço cedo demais...
Talvez quisera voltar no tempo e fazer algo diferente para não sentir isso. Talvez sim. Talvez não. E é, exatamente, o "talvez" que me desagrada tanto. Tenho medo de talvez não saber o que fazer com o tempo que me resta, e ele continuar passando, inexorável e eterno.
Tal-vez.

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