domingo, 30 de março de 2008

O amor é cego, surdo e burro.

É bem estranho como as pessoas ficam cegas diante de um estado deprimente de raiva incontida. Diante do perdão mal dado e dos pecados não esquecidos, a falta de confiança realmente toma dimensões assustadoras. Até o inegável parece cair por terra e o que menos se espera de alguém acontece. Não costumo ter acessos de raiva, porém me dói profundamente a injustiça. A falta de fé nas pessoas e a não credibilidade no seu poder de mudança me entristece deveras. A fúria nos olhos de alguém é imagem inesquecível, ferida terrivelmente aberta que se não sara a longo prazo, talvez nunca cicratize. Acreditar em alguém, nas palavras pronunciadas por ele e nos seus atos é algo, realmente, difícil. Porém, quando esse mesmo alguém te enche de exemplos maiores de confiança, talvez escorregue um pouco nas palavras, mas é firme e forte em seus atos, não se deve ir além nos insultos. Essa pessoa merece ser reconhecida, respeitada e ouvida. Creio que não há dor maior do que não saber perdoar e confiar nas pessoas. Sempre ouvi dizer que o perdão é algo feito para si mesmo e não para o outro que recebe. As pessoas são uns problemas, uns problemas lindos. Há pessoas que são uma enorme equação matemática, no entanto a resposta é bem simples, se você estudou e estava preparado para tal resolução. Acredito, fielmente, no poder das pessoas, na força de vontade, nos olhos e verdades escondidas em seus corações. Acredito no amor. É bem verdade que ele me deixa um pouco (muito) cega às vezes e me faz chorar interminavelmente. Porém, para mim, o amor é a verdade jamais contestada e não importa o que se tenha passado, o que se tenha escutado ou sofrido, o amor é capaz de curar, acreditar e, o mais importante de tudo, não deixar que a fé se acabe. Nunca.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Os lírios

parte IV
(final)
Luiza ainda estava tonta... Aquele beijo inesperado a deixara sem chão. Apesar da audácia de Eduardo, ela gostara daquele momento. Não podia negar que desejava secretamente esse beijo há muito tempo. Eduardo, muito desconcertado, porém certo do que fizera, sentou-se à sua frente e começou a falar:
-Lu, achei que você tinha me traído. Desconfiei de seu amor por mim e hoje vejo que foi totalmente sem motivos. Comecei a desconfiar de suas saídas inesperadas e demoradas. Você ficava horas fora e me dizia que estava fazendo trabalho da faculdade com as amigas. Só que, secretamente, eu ligava para todas elas e nenhuma sabia onde você estava. -fez uma pausa para olhá-la.
Luiza estava com a cabeça baixa. O que Eduardo falava parecia ferir seu coração como uma faca. E ele continuou...
-Já não aguentava mais escutar suas mentiras um dia sim e outro não. Eu sabia que nada do que você falava era verdade e aquilo me consumia cada vez mais. Decidi, então, segui-la.
-Você me seguiu? Como pôde fazer isso?!
-Achava que você me enganava com outra pessoa! Num dia desses, quando você ligou pra mim, dizendo que não a esperasse para jantar, peguei o carro e fiquei esperando você sair do trabalho. Você saiu pontualmente e foi direto para o estacionamento, muito sorridente, e isso já me preocupou bastante. Porém, não havia ninguém com você. E já que eu chegara até ali, iria até o fim! -parou novamente como se fizesse um grande esforço para lembrar o que falaria a seguir.
-Continuei seguindo-a. Até que você parou em outro hospital. Desceu, pegou sua bata e seus materiais de trabalho, estacionou o carro e entrou. Não entendi absolutamente nada! Minha cabeça girava tanto e eu estava tão desnorteado, que não sabia nem o que estava fazendo ali. Resolvi, então, descer do carro e perguntar ao porteiro sobre você...
Eduardo parecia não conter a emoção. Deixou rolar uma lágrima dos olhos e continuou:
-O porteiro disse que você trabalhava no hospital. Era a nova enfermeira e naquele dia, estava de plantão. Quase desabei. Então tudo encaixou-se perfeitamente... Justamente quando íamos reformar nossa casa, casar e pensar em ter filhos, nosso antigo sonho juntos, eu fiquei desempregado e muito abalado. Você, com esse grande coração, por me amar tanto, resolveu abdicar da faculdade e conciliar um outro emprego para o nosso sonho não cair no esquecimento... Meu Deus, como fui injusto!
Luiza soluçava. Aquilo tudo era doloroso demais para ela. Eduardo, porém, continuou:
-Naquela noite, não consegui voltar para casa. Fui embora. Achava que não a merecia. Que você era boa demais para mim e resolvi sair da sua vida para sempre. Mas, só penso em você a todo momento...por favor, não me deixe!
Luiza, invadida por todo seu orgulho, falou:
-É tarde demais. Realmente, eu me sacrifiquei por você e vi que não merecia nada! Para mim, chega! Não adianta mais se lamentar. Suas lágrimas não vão apagar a solidão e o desprezo que me fez sentir durante tanto tempo e sem ter feito nada! Por favor, vá embora daqui já! Estou cansada, é tarde e não quero vê-lo nunca mais. Obrigada por ter vindo aqui explicar sua covardia! Já o fez! Pode ir!
Eduardo não pôde fazer nada. Luiza tinha toda razão de estar magoada e resolveu não insistir, foi embora batendo a porta.
Luiza então, deixou-se cair no sofá e começou a chorar. Tudo tinha acabado!
Durmiu ali mesmo e acordou, já à noite, com um som de campainha. Estava meio tonta e aquela manhã parecia não ter passado de um terrível pesadelo, que ela desejava esquecer. Quando abriu a porta, teve a mais bela de todas as visões de sua vida: a rua toda estava coberta por lírios brancos, o perfume inebriante invadia todas as casas e tomava conta de todo o ar. No chão da porta, um bilhete com um pequeno lírio ao lado: -um milhão de lírios para alegrar um coração machucado, e eu só preciso de um perdão para alegrar minha vida para sempre. Se tiver mudado de idéia, estou no celular.
Luiza olhou à sua volta e ficou maravilhada com aquela paz que os lírios proporcionavam. Não pensou duas vezes, deixou a porta aberta, apertou o bilhete em suas mãos, inalou mais uma vez o perfume dos lírios e pegou o telefone.

dedicado à todos aqueles que leram parte por parte e me incentivaram para o fim deste conto. Muito obrigada! Beijos

domingo, 23 de março de 2008

cheiro de lírio branco.

Os lírios

parte III
(continuação)
Eduardo amargava seu próprio erro. Via Luiza daquela maneira, distante, e sabia que não poderia culpá-la. A culpa era totalmente sua. Começou a lembrar momentos maravilhosos ao lado dela e deixava escapar suspiros tristes que Luiza percebia. Lembrava daquela vez no parque... Era o primeiro ano deles juntos e Luiza parecia mais bela e radiante do que nunca. Com um vestido florido, cabelos perfeitamente emoldurados numa simples trança, falando sem parar, ela parecia flutuar de tão divina. Confundia-se com as flores e cores que os rodeavam. Luiza era perfeita para ele. Porém, vendo-a ali, imóvel, semblante sério, olhar torturante e os lábios apertados, denunciando sua raiva contida, ele entregou-se ao choro. Nunca imaginou fazer tanto mal à Luiza, fazê-la sofrer, logo ela que só fez amá-lo.
-Por favor, Eduardo! Sem choro. Eu que deveria estar entregando-me às lágrimas não me dou esse direito, para você que não tem motivo algum estar dessa forma! Ora, vamos. É melhor ir embora!
Eduardo parou de chorar. Secou os olhos desajeitadamente e virou-se para ela.
-Choro de ódio. Ódio de mim mesmo. Como pude deixá-la?
-E você faz essa pergunta agora? Só agora? Por que não pensou antes?
-Eu estava cego de ciúmes! Não suportava a idéia de você ter me traído. Depois quando descobri toda a verdade, senti muita vergonha e resolvi ficar desaparecido mesmo. Mas, eu não consigo viver longe de você, meu amor. Por favor, me perdoe!
-Que loucura é essa, Eduardo? Você está passando dos limites! Eu nunca traí você!
-Eu sei, Lu!
-E por que falou isso? Não entendo mais nada. É melhor ir embora, já disse. Você está me deixando tonta!
-Não por favor, deixe-me ao menos explicar para que você entenda por que fui embora. Mesmo que você não me queira mais em sua vida, deixe-me fazê-la entender os motivos da minha covardia.
Luiza parecia estar mais confusa do que em qualquer momento de sua vida. Eduardo estava louco, só podia ser isso! Ou inventara qualquer coisa para voltar sem culpas. No entanto, sempre fora paciente e generosa e sabia que escutá-lo seria amelhor solução.
Olhando para ele, sentia o sangue acelerar em suas veias. A vontade de esganá-lo havia passado. Agora as lembranças invandiam sua alma e a faziam pensar no amor imenso que sentia por ele, apesar de desprezá-lo.
A hora passava rápido, Luiza ,então, resolveu fazer um café para acalmar os ânimos e até para fugir de seus pensamentos.
Meia hora depois, voltou para a sala, entregou o café a Eduardo que agradeceu num sorriso irresistível, sentou-se à sua frente e disse, por fim:
-Pronto, Eduardo. Pode começar com as explicações.
Mal terminara de falar, sentiu o corpo paralisar... Eduardo estava bem à sua frente, olhos colados nos dela, lábios perfeitamente desenhados, sedentos por um beijo... Não conseguiu pensar em mais nada, Eduardo a envolvera num abraço e a beijara energicamente. Só sua consciência gritava alto: -Como você é boba, Luiza!

(continua)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Os Lírios

parte II
(continuação)
Luiza não acreditava no que via. Eduardo estava ali, parado bem a sua frente com lírios brancos encantadores caindo de seus braços. Ele sorria sinceramente e isso despertou certa fúria nela. Como sorrir daquela maneira, após ter sumido, deixando-a sozinha? Pensou em bater a porta no seu nariz, mas era um nariz perfeito demais para tamanho estrago. Vendo Eduardo ali, cabelos ao vento, cara lavada, sorriso gostoso, ela parou de negar o inegável: amava aquele homem de todas as formas e apesar de tudo. E ela sempre ouvia e até sabia intimamente que a partir do momento que se ama alguém apesar de alguma coisa, realmente a situação é grave. Então seus pensamentos foram interrompidos pela voz dele.
-Lu, os lírios... pegue-os, são seus. Sei que adora.
Ela estremeceu... lírios brancos. aah, adorava lírios. Sentia um verdadeiro encantamento pela delicadeza deles. Sonhara iúmeras vezes em casar-se de branco esbanjando lírios em suas mãos. Enfim, conseguiu pronunciar qualquer coisa:
-Sim, adoro. Obrigada Dud... éér, Eduardo.
Ele ria:
-Quanta formalidade e que séria você está. Nem parece a Luiza de sempre.
Ela sentia o sangue ferver e a vontade de pular em seu pescoço para esganá-lo aumentava cada vez mais.
-Posso entrar? Preciso conversar com você. - e aproximou-se, tentando tocá-la. Porém Luiza esquivou-se subitamente e olhou-o bem nos olhos.
Ele assustou-se. Via raiva em seus olhos e sentiu o coração bater mais forte. Luiza tornara-se fria, determinada a não tentar aproximação alguma. Porém insistiu:
-Lu, sei que errei. Preciso falar meus motivos e fazer você entender. Por favor, vamos conversar, precisamos conversar.
Luiza não falava nada. Apenas olhava em seus olhos, com aquele ar cansado de quem já escutou muitas desculpas esfarrapadas. Por fim, virou-se, deixou a porta aberta e disse baixinho:
-Entre.

(continua)

domingo, 16 de março de 2008

satisfação.

devido ao corre-corre em que se encontra a minha vida, a falta de tempo para sentar-me e dedicar-me por inteiro ao meu querido refúgio de palavras, ainda não posso terminar meu conto.
venho dar satisfações a quem espera por ver o fim dos lírios brancos. mas, aguardem. não é de minha natureza começar uma coisa e deixar por aí, sem terminar.
um beijo agradecido a todos que passam por aqui. :)