sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O doce do amargo.

Como em completa sintonia e falta de ritmo, ao mesmo tempo, a doçura e o amargo dançam sua dança, escutando aquela música melancólica e profunda. Rodopiam, giram, dão verdadeiras cambalhotas saltitantes e todos esperam ansiosos o que a fusão de extremos tão distintos pode, por ventura, ocasionar. Eu assisto bem de perto essa cena, chego ao total atrevimento e me arrisco numa dança com eles. Eles estão me girando, me deixam tonta, é inebriante o cheiro que nos envolve e me ofusca a cor que invade o salão. É perigoso entrar nessa dança. Perigoso e desnecessário. No entanto, o vento me chama e devo ser fiel ao seu chamado. Atiro-me nesse precipício encantador. Sinto o sabor de ambos, o doce e o amargo, admiro a leveza de um e o ardor do outro. Pelo menos, o que um me tira o outro me traz, na mesma proporção.
Sei que estou com medo de que apenas um vença esse duelo. E me entristeceria se o doce ficasse amargo. Inevitavelmente, se o doce perdesse seu sabor tudo estaria perdido. Então nessa dança, eu devo jogar meu corpo apenas para um lado e pisar no pé do outro. Enquanto o amargo grita enlouquecidamente, o doce sorri discretamente e me agradece num simplório e inaudível "obrigado". Se o doce tivesse a força que o amargo mostra ter, para então superá-lo, seria bem mais fácil, para mim, para você, para nós. No entanto, o doce é sutil e manso, frágil, simples. É por essas e outras razões, tão e mais dolorosas, que estou de mãos dadas, nessa dança frenética e imprevisível, com o doce do amargo.

Para você.

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