sexta-feira, 28 de março de 2008

Os lírios

parte IV
(final)
Luiza ainda estava tonta... Aquele beijo inesperado a deixara sem chão. Apesar da audácia de Eduardo, ela gostara daquele momento. Não podia negar que desejava secretamente esse beijo há muito tempo. Eduardo, muito desconcertado, porém certo do que fizera, sentou-se à sua frente e começou a falar:
-Lu, achei que você tinha me traído. Desconfiei de seu amor por mim e hoje vejo que foi totalmente sem motivos. Comecei a desconfiar de suas saídas inesperadas e demoradas. Você ficava horas fora e me dizia que estava fazendo trabalho da faculdade com as amigas. Só que, secretamente, eu ligava para todas elas e nenhuma sabia onde você estava. -fez uma pausa para olhá-la.
Luiza estava com a cabeça baixa. O que Eduardo falava parecia ferir seu coração como uma faca. E ele continuou...
-Já não aguentava mais escutar suas mentiras um dia sim e outro não. Eu sabia que nada do que você falava era verdade e aquilo me consumia cada vez mais. Decidi, então, segui-la.
-Você me seguiu? Como pôde fazer isso?!
-Achava que você me enganava com outra pessoa! Num dia desses, quando você ligou pra mim, dizendo que não a esperasse para jantar, peguei o carro e fiquei esperando você sair do trabalho. Você saiu pontualmente e foi direto para o estacionamento, muito sorridente, e isso já me preocupou bastante. Porém, não havia ninguém com você. E já que eu chegara até ali, iria até o fim! -parou novamente como se fizesse um grande esforço para lembrar o que falaria a seguir.
-Continuei seguindo-a. Até que você parou em outro hospital. Desceu, pegou sua bata e seus materiais de trabalho, estacionou o carro e entrou. Não entendi absolutamente nada! Minha cabeça girava tanto e eu estava tão desnorteado, que não sabia nem o que estava fazendo ali. Resolvi, então, descer do carro e perguntar ao porteiro sobre você...
Eduardo parecia não conter a emoção. Deixou rolar uma lágrima dos olhos e continuou:
-O porteiro disse que você trabalhava no hospital. Era a nova enfermeira e naquele dia, estava de plantão. Quase desabei. Então tudo encaixou-se perfeitamente... Justamente quando íamos reformar nossa casa, casar e pensar em ter filhos, nosso antigo sonho juntos, eu fiquei desempregado e muito abalado. Você, com esse grande coração, por me amar tanto, resolveu abdicar da faculdade e conciliar um outro emprego para o nosso sonho não cair no esquecimento... Meu Deus, como fui injusto!
Luiza soluçava. Aquilo tudo era doloroso demais para ela. Eduardo, porém, continuou:
-Naquela noite, não consegui voltar para casa. Fui embora. Achava que não a merecia. Que você era boa demais para mim e resolvi sair da sua vida para sempre. Mas, só penso em você a todo momento...por favor, não me deixe!
Luiza, invadida por todo seu orgulho, falou:
-É tarde demais. Realmente, eu me sacrifiquei por você e vi que não merecia nada! Para mim, chega! Não adianta mais se lamentar. Suas lágrimas não vão apagar a solidão e o desprezo que me fez sentir durante tanto tempo e sem ter feito nada! Por favor, vá embora daqui já! Estou cansada, é tarde e não quero vê-lo nunca mais. Obrigada por ter vindo aqui explicar sua covardia! Já o fez! Pode ir!
Eduardo não pôde fazer nada. Luiza tinha toda razão de estar magoada e resolveu não insistir, foi embora batendo a porta.
Luiza então, deixou-se cair no sofá e começou a chorar. Tudo tinha acabado!
Durmiu ali mesmo e acordou, já à noite, com um som de campainha. Estava meio tonta e aquela manhã parecia não ter passado de um terrível pesadelo, que ela desejava esquecer. Quando abriu a porta, teve a mais bela de todas as visões de sua vida: a rua toda estava coberta por lírios brancos, o perfume inebriante invadia todas as casas e tomava conta de todo o ar. No chão da porta, um bilhete com um pequeno lírio ao lado: -um milhão de lírios para alegrar um coração machucado, e eu só preciso de um perdão para alegrar minha vida para sempre. Se tiver mudado de idéia, estou no celular.
Luiza olhou à sua volta e ficou maravilhada com aquela paz que os lírios proporcionavam. Não pensou duas vezes, deixou a porta aberta, apertou o bilhete em suas mãos, inalou mais uma vez o perfume dos lírios e pegou o telefone.

dedicado à todos aqueles que leram parte por parte e me incentivaram para o fim deste conto. Muito obrigada! Beijos

2 comentários:

Clarissa às claras disse...

ÊÊÊÊ!!
Primeira pessoa a comentar depois de todo conto completo!!
Meus parabéns, Lu!!
Maravilhoso seu conto, conseguiu prender a atenção de todos e atiçar ainda mais nossa curiosidade pela continuação!!
Lindo!! Com um final perfeito e cativante!!
Parabéns, mesmo!!
Você merece!!
Beijos!! =)

Anônimo disse...

Que lindo!

Que bom que a personagem venceu o orgulho. Para algumas pessoas não é tão simples.

Ahh..e não posso deixar de dar os parabéns pelo conto.

Abraço