domingo, 23 de março de 2008

Os lírios

parte III
(continuação)
Eduardo amargava seu próprio erro. Via Luiza daquela maneira, distante, e sabia que não poderia culpá-la. A culpa era totalmente sua. Começou a lembrar momentos maravilhosos ao lado dela e deixava escapar suspiros tristes que Luiza percebia. Lembrava daquela vez no parque... Era o primeiro ano deles juntos e Luiza parecia mais bela e radiante do que nunca. Com um vestido florido, cabelos perfeitamente emoldurados numa simples trança, falando sem parar, ela parecia flutuar de tão divina. Confundia-se com as flores e cores que os rodeavam. Luiza era perfeita para ele. Porém, vendo-a ali, imóvel, semblante sério, olhar torturante e os lábios apertados, denunciando sua raiva contida, ele entregou-se ao choro. Nunca imaginou fazer tanto mal à Luiza, fazê-la sofrer, logo ela que só fez amá-lo.
-Por favor, Eduardo! Sem choro. Eu que deveria estar entregando-me às lágrimas não me dou esse direito, para você que não tem motivo algum estar dessa forma! Ora, vamos. É melhor ir embora!
Eduardo parou de chorar. Secou os olhos desajeitadamente e virou-se para ela.
-Choro de ódio. Ódio de mim mesmo. Como pude deixá-la?
-E você faz essa pergunta agora? Só agora? Por que não pensou antes?
-Eu estava cego de ciúmes! Não suportava a idéia de você ter me traído. Depois quando descobri toda a verdade, senti muita vergonha e resolvi ficar desaparecido mesmo. Mas, eu não consigo viver longe de você, meu amor. Por favor, me perdoe!
-Que loucura é essa, Eduardo? Você está passando dos limites! Eu nunca traí você!
-Eu sei, Lu!
-E por que falou isso? Não entendo mais nada. É melhor ir embora, já disse. Você está me deixando tonta!
-Não por favor, deixe-me ao menos explicar para que você entenda por que fui embora. Mesmo que você não me queira mais em sua vida, deixe-me fazê-la entender os motivos da minha covardia.
Luiza parecia estar mais confusa do que em qualquer momento de sua vida. Eduardo estava louco, só podia ser isso! Ou inventara qualquer coisa para voltar sem culpas. No entanto, sempre fora paciente e generosa e sabia que escutá-lo seria amelhor solução.
Olhando para ele, sentia o sangue acelerar em suas veias. A vontade de esganá-lo havia passado. Agora as lembranças invandiam sua alma e a faziam pensar no amor imenso que sentia por ele, apesar de desprezá-lo.
A hora passava rápido, Luiza ,então, resolveu fazer um café para acalmar os ânimos e até para fugir de seus pensamentos.
Meia hora depois, voltou para a sala, entregou o café a Eduardo que agradeceu num sorriso irresistível, sentou-se à sua frente e disse, por fim:
-Pronto, Eduardo. Pode começar com as explicações.
Mal terminara de falar, sentiu o corpo paralisar... Eduardo estava bem à sua frente, olhos colados nos dela, lábios perfeitamente desenhados, sedentos por um beijo... Não conseguiu pensar em mais nada, Eduardo a envolvera num abraço e a beijara energicamente. Só sua consciência gritava alto: -Como você é boba, Luiza!

(continua)

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