
Tomo um café gelado... sim, só assim consigo acordar! Ele desce amargo, talvez seu gosto fique doce ao longo do dia, porém açúcar nunca foi prioridade para mim.
Saio sempre apressada, sempre correndo, distraída e olhando para o relógio. Mal percebo a vizinha da frente, bailarina italiana, que acorda cedo e escuta Beethoven, talvez esteja na ponta dos pés, voando pelo apartamento e fazendo torradas, já que o cheiro é delicioso. O som já virou rotina, é sempre clássico, misterioso e refinado. Assim como ela e seus longos cabelos de sol.
O bebê, no apartamento ao lado, chora alto. Talvez queira colo, leite ou só um pouco de atenção do pai arquiteto e da mão advogada, que nunca têm tempo nem param em casa.
Seu Alfredo, o último vizinho, é mais velho, mora só, não sei se tem filhos, se já foi casado, amado ou deixado. É bem simpático, educado e calmo. Sempre faz sua caminhada matinal na praia. Geralmente chega na mesma hora em que saio. Aliás, meu primeiro bom dia sempre é dele.
Finalmente o elevador chega, entro, olho minha silhueta no grande espelho... pareço exausta. Meus olhos levemente caídos, meu cansaço estampado. Sou o retrato fiel de noites mal dormidas ou mesmo, de uma longa noite de sono, já que as duas hipóteses me deixam, estranhamente, sonolenta. Sempre a mesma coisa.
Começo a sentir falta de ar. Sou claustrofóbica e, definitivamente, morar no vigésimo terceiro andar não ajuda muito.
Chego ao térreo, respiro, o ar entra forte e revigorante. Começo o velho ritual de 'bom dia, estranho' , 'bom dia, querida' , 'bom dia, dia.'
Saio... é a hora da vida. É a hora da roda viva. Mais horas a serem vividas, mais do mesmo ou doses do desconhecido.
Olho ao redor e aí, entendo, como gosto disso! Como é bom viver, sentir-se viva, vida.
Coloco os fones de ouvido e caminho firme...estou mais que pronta; BOM DIA, VIDA!