sábado, 31 de maio de 2008

Eu, palavra.


Meu refúgio são as palavras. Sento num canto escondido, longe das coisas vivas e audíveis. Meu tempo é meu. Quero apenas o silêncio comigo. O silêncio, alguns pingos de nostalgia, uma pouca tinta e um papel amassado. Respiro forte. Vai começar a chover. Minha chuva de momentos, tormentos, pecado e salvação. Minha chuva de renovação e puro êxtase. Meu vento fraco e suave acompanhando o turbilhão de idéias desvairadas de minha cabeça. Não penso, começo a sentir. As palavras chegam assim, convidadas pelo toque suave das mãos. Entendo que está na hora de agir. Faz calor, o suor até arrisca pingar, mas eu já estou libertada. Já pulei o abismo, joguei-me ao vento, já sinto o frescor de quem se entrega, se esquece, se liberta, se sente. Enfim, surgem elas: Vívidas, imponentes, salvadoras, donas de meu ser, motivos de meus delírios e alucinações. Palavras, como as adoro; Como adoraria morrer e reviver nelas.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

último desejo.


O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar,
me diz: o que você faria?

sábado, 24 de maio de 2008

Aquarela de gente.



Tenho uma paixão avassaladora por pessoas. Todas elas me encantam, me sugam, me deixam fora de órbita, me emprestam um ritmo gostoso para conduzir a vida. Pessoas nunca são iguais. Nunca achei ninguém que fosse igual a outro. Não existe. E é justamente, essa peculiaridade, essa individualidade que me enlouquece. Cada qual sabe o que tem de melhor e sai por aí, num ritmo desenfreado emprestando, por onde passa, essa virtude ou pecado escondido. Eu, particulamente, conheço todo tipo de gente e todos me fascinam. Sou exatamente do jeito que sou, por sugar de cada um o que quero e o que eles podem vir a oferecer. Sou uma aquarela de gente, uma mistura de gostos e mau gostos, um encaixe imperfeito, um quebra-cabeça de forças e defeitos, um quadro pintado por várias mãos, um caminho de passos vacilantes e firmes, um filme de atores vivendo histórias reais. Pessoas me encantam. Toda essa gente, toda essa diferença absurda, todo esse sabor que cada um tem, todo o mal que podem vir a causar, toda dor que carregam, toda a forma, todo o brilho, traz para o meu ser uma renovação absoluta e necessária. Ensinam-me tanto, transformam-me tanto... Todos, por mais estranho que seja e incrível que pareça, que passam pela minha vida são registrados com o que acho de melhor: suas vidas.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A saudade cabe dentro de uma caixa.


Peguei aquela velha caixa esquecida num canto escuro do ármario. Estava pesada, desbotada, porém encheu-me de lágrimas. Ali dentro estavam as lembranças mais queridas, um passado novo cheio de felicidade e meus desejos de viver de novo aqueles momentos. Abri, o cheiro era o mesmo...cheirava a saudade. Meus dedos percorreram aquelas cartas amareladas, aquelas fotos imortalizadas pelo tempo. Olhei sem coragem de continuar minha caça ao tesouro esquecido e tão bem escondido. Enfim, mergulhei nos sorrisos que encontrava, nas palavras que saltavam em meus olhos como brincadeiras infantis, no cheiro forte de juventude bem vivida.
Saboreei cada minuto, senti mais uma vez aquele cheiro, olhei triste pela última vez e fechei a velha caixa vermelha.
Guardei-a no mesmo lugar escondido dos muitos anos desde que ela faz parte da minha vida e eu da dela, no entanto, deixei meu coração pulsando dentro dela e voltei para a realidade, menos colorida, com menos amigos em volta, sem cheiro de saudade e sem nenhuma caixa protetora em volta dela.

sábado, 17 de maio de 2008

Dois.







Mistura-se tudo. O sapato dele e a maquiagem dela, a revista de moda, o CD que só ele gosta. Aquele pacote de biscoito que ela sempre joga por debaixo da mesinha de cabeceira e aquela toalha molhada que ele nunca leva de volta para o banheiro e acaba deixando largada em cima da cama. As cartas de amor, os papéis de chocolate no chão, o cheiro dela no ar, a foto dele na parede, o filme que assistiram juntos pelo menos umas vinte vezes, aquela flor que murchou e ainda continua bela, as coisas velhas que ele gosta de guardar, os cadernos coloridos que ela tem, a lembrança do sorriso largo dela, do jeito sério e calado dele... Um aprende a suportar as manias, defeitos e necessidades do outro. É como aprender a ser duas pessoas. Pensar por dois, andar por dois caminhos diferentes que levam a uma só direção, amar duas vezes.
Realmente, o amor é tão completo que só existe se for grande o bastante para preencher dois espaços e ocupar duas vidas.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Um pouco de confiança.


Grito, imploro, eu peço: confie em mim. Rasgue essa cortina de temores infundados e dê-me uma chance sincera. Quantos perdões jão foram dados? Então, deixe-me segui-los, deixe seguir minha linha reta. Estou no caminho certo, não preciso de guias, nem mapas, joguei a bússola fora, já desisti da direção errada, minha vida já está delineada, eu mesma tratei de cuidá-la.
Dói tanto pensar que tudo que falo pode, por ventura, soar falso. Eu já me consertei, deixei de ser um brinquedo torto e virei um ser humano por inteiro. Eu preciso respirar um pouco a paciência que tanto falta, preciso acalmar minha alma. Já sou completa, não precisa me montar, não precisar seguir meus passos nem medir minhas palavras. Eu respondo por mim. Pergunte-me sobre verdades que queira ouvir, eu respondo! Não temo, já esqueci o que é o medo. Não tenho medo. Em seu lugar ficou minha força que é bem mais forte e fiel a mim. Estou calma, fique também. Fale comigo, seja meu abrigo, esqueça esse zum zum zum sem razão nem motivo.
Acredite em mim! Deixe-me viver, preciso respirar, quero ser completa. Deixe-me errar! Quero continuar crescendo, não espero que ninguém venha me salvar, eu sei me cuidar.
Um último pedido, um só suspiro inseguro e sem mais gritos: confie em mim, eu já me sou confiável!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Doçura.



Menina, corre para os braços da vida.
Segue o caminho das flores, esquece das horas das dores.
O tempo do mundo é teu, minha querida.
Balança teus cabelos ao vento, exala esse perfume moreno.
Dança tua valsa arriscada, esqueça de uma vez esse choro sem graça.
Espalha tuas pegadas pequenas, arrisca uma canção colorida.
Sorria para os amantes de sorte, os velhos sábios e fortes, os jovens jogados ao vento.
Espalha esse teu amor ,
capaz de transformar a dor de um sonho perdido
em cor de esperança e sabor de pirulito, menina.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nova saudade velha.


E de repente tudo muda de tom, perde o sentido, arrisca uma pirueta inusitada no tempo.

Fica meio cinza, que é a cor da saudade, rabiscado de lembranças doces e eternas.

E então começam os apertos sem pausa, que em outros tempos eram adoráveis abraços na alma.

O som, antes alto e insistente, vira um eco vazio, vibrando fraco e sem sentido no abismo da memória.

Saudade vira uma palavra rotineira e sem mais efeito de causa.

Saudade nada mais é do que uma dor de perda disfarçada, um soco no estômago, um olhar perdido no horizonte, um grito abafado na escuridão, uma lágrima contida, uma lembrança esquecida, uma abstinência das emoções, um adeus dado de última hora, um abraço recolhido, um carinho que faltou acontecer. Saudade é você arrepender-se e saber que voltar atrás nunca mais será possível.


aos amigos de minha mais dolorosa saudade.

domingo, 4 de maio de 2008

Feito bolha de sabão.


Pessoas são como bolhas de sabão.
Surgem de um leve sopro, começam miúdas, voando baixinho, até ganharem força, forma, expressão, sentimento e coragem de alcançar os céus.
São transparentes, até acharem uma paisagem, um lugar, um momento ou motivo que as tornem coloridas.
Podem passar despercebidas ou distribuir sorrisos por onde o vento as levarem.
Duram frações de segundos, pequenos intervalos existenciais até um próximo sopro de renovação, mas continuam surgindo incansáveis, belas, brilhantes, delicadas...
Não causam dor alguma, desde que não queiram... Uma bolha de sabão em mãos erradas pode causar um mal irremediável.
E mesmo que o tempo passe, mesmo que as coisas mudem, elas foram importantes na vida de alguém um dia e por conta disso,jamais podem ser esquecidas. Jamais.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Flores, amores e blábláblá.


Caminho numa estrada de pedrinhas coloridas. Cada cor lembra-me uma etapa da vida. Do azul ao amarelo, do rosa ao verde, eu lembro bem desse arco-íris formado, desses momentos guardados, dessa vida em cores, sabores e,também, alguns temores.

Continuo a andar entre flores que desabrocham devagar. Escuto risos miúdos e algumas vozes doces me chamarem. As borboletas brilhantes parecem brincar com os meus sentidos. Me balaçam toda, me atrapalham toda e até chego a pensar que consigo voar junto com elas.

Então, sigo num atalho improvisado, pego carona com o vento, fazendo companhia às nuvens que passam. Os amores que encontro nessa estrada todos foram escolhidos por mim, mas sempre tem aqueles que nos tomam sem avisar. E esses, aah..esses são os mais lindos e preciosos. Então, guardo-os em minha mochila para que não fiquem pelo caminho, mas sigam essa trilha comigo por todos os meus dias.

O sol boceja mais de uma vez e logo entendo que ele vai se despedir. Então eu sento um pouco. Não que eu esteja cansada, mas se eu continuar andando posso perder a lua entrando majestosa e tomando posição no céu encoberto de estrelas. E ela, finalmente chega, espalhando todo o seu feitiço, mostrando toda a sua força e eu, amante dela que sou, paro, sento, aspiro o cheiro da vida com toda a força dos meus pulmões e adormeço em paz.





Mergulhada no orgulho.

Ele diz que sou orgulhosa e defendo-me.

Ele diz: -Você é uma orgulhosa!

E eu digo: -Você que é.

Afinal, quem é mais orgulhoso aqui? Orgulho de quê? Pra quê?

Preciso ter orgulho de outras coisas, a partir de agora.